(El País, 22) 1. Podemos, o fenômeno político que está revolucionando o mapa político espanhol, deixou em apenas 11 meses de ser uma ideia de um grupo de cientistas políticos ligados à esquerda tradicional para se tornar um partido organizado que, segundo todas as pesquisas, ameaça a hegemonia das principais legendas. Pablo Iglesias, professor de Ciências Políticas , secretário-geral e principal incentivador desta iniciativa com caráter de assembleia, apresentou o Podemos como “método participativo aberto à população”. O objetivo consistia em despertar entusiasmos, frustrações, indignação e demandas dos cidadãos em torno de um mesmo projeto, no qual todos deveriam se sentir de alguma forma protagonistas.
2. Essa força política conseguiu canalizar os sentimentos do chamado Movimento 15-M, uma onda espontânea dos indignados– nascida em maio de 2011 como resposta aos poderes e partidos tradicionais. A primeira meta dessa organização foi a eleição europeia de 25 de maio de 2014. Podemos decidiu dar um salto e se apresentar sozinho. Conseguiu cinco eurodeputados entre as 54 vagas em disputa na votação, com mais de 1,2 milhão de votos. Um êxito.
3. Sociólogos e especialistas em projeções eleitorais acompanham o crescimento do Podemos em meio a um clima de profundo descrédito da política, alimentado pela crise econômica, o desemprego e os casos de corrupção que atingem tanto a direita como os socialistas. Nesse contexto, o Podemos conseguiu conquistar setores importantes da sociedade. A última pesquisa do instituto Metroscopia coloca a legenda como segunda força na estimativa dos votos, com 25% de apoio. Pablo Iglesias afirma que seu programa pode ser assumido por qualquer socialdemocrata no sentido clássico, e os líderes do movimento deixaram de falar sobre modelos latino-americanos para se concentrarem em Dinamarca, Suécia ou Noruega.
4. O partido também se apresenta como uma força “transversal” com vistas ao calendário eleitoral que começa com as eleições regionais e municipais de 2015 e terminará no final do ano com as eleições gerais. A meta é ultrapassar o PSOE –socialista. O Podemos articula o choque entre “o povo e a casta”, “dos de baixo e os de cima”, como o principal argumento de sua estratégia política. Este eixo ficou estabelecido desde o princípio em seu programa de debates políticos na televisão transmitido online, La Tuerka.
5. —”O estilo de falar com as pessoas no La Tuerka foi o que nós começamos a experimentar em meios de comunicação grandes. Comprovei que esse discurso funcionava. É um estilo muito diferente ao da esquerda tradicional do nosso país, é um discurso de maiorias, e as pessoas gostavam, me paravam nas ruas e me diziam “sei que você é de esquerda e eu não sou, mas concordo com o que você diz”. Desde então passaram-se apenas dez meses, nos quais o Podemos modificou um tabuleiro político consolidado desde os anos 1980. O movimento concluiu em novembro o processo pelo qual se tornou uma força política organizada, com uma peculiaridade: apesar de ter uma estrutura hierárquica, todas as decisões são submetidas à votação das bases, formadas por mais de 270.000 simpatizantes inscritos em sua página na Internet e organizadas em mais de 1.000 círculos territoriais e setoriais. Um fenômeno sem precedentes na Espanha nas últimas décadas, ao menos nesta dimensão. E que tem um objetivo final muito claro. Nas palavras de Iglesias, "sair para vencer e ocupar a centralidade do tabuleiro".