sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

“PODEMOS”: FENÔMENO POLÍTICO NA ESPANHA! NO BRASIL, “REDE” E “PSOL” SE ASSEMELHAM!




 
(El País, 22) 1. Podemos, o fenômeno político que está revolucionando o mapa político espanhol, deixou em apenas 11 meses de ser uma ideia de um grupo de cientistas políticos ligados à esquerda tradicional para se tornar um partido organizado que, segundo todas as pesquisas, ameaça a hegemonia das principais legendas.  Pablo Iglesias, professor de Ciências Políticas , secretário-geral e principal incentivador desta iniciativa com caráter de assembleia, apresentou o Podemos como “método participativo aberto à população”.  O objetivo consistia em despertar entusiasmos, frustrações, indignação e demandas dos cidadãos em torno de um mesmo projeto, no qual todos deveriam se sentir de alguma forma protagonistas.
   
2. Essa força política conseguiu canalizar os sentimentos do chamado Movimento 15-M, uma onda espontânea dos indignados– nascida em maio de 2011 como resposta aos poderes e partidos tradicionais.  A primeira meta dessa organização foi a eleição europeia de 25 de maio de 2014. Podemos decidiu dar um salto e se apresentar sozinho. Conseguiu cinco eurodeputados entre as 54 vagas em disputa na votação, com mais de 1,2 milhão de votos. Um êxito. 

3. Sociólogos e especialistas em projeções eleitorais acompanham o crescimento do Podemos em meio a um clima de profundo descrédito da política, alimentado pela crise econômica, o desemprego e os casos de corrupção que atingem tanto a direita como os socialistas.  Nesse contexto, o Podemos conseguiu conquistar setores importantes da sociedade. A última pesquisa do instituto Metroscopia coloca a legenda como segunda força na estimativa dos votos, com 25% de apoio. Pablo Iglesias afirma que seu programa pode ser assumido por qualquer socialdemocrata no sentido clássico, e os líderes do movimento deixaram de falar sobre modelos latino-americanos para se concentrarem em Dinamarca, Suécia ou Noruega.

4. O partido também se apresenta como uma força “transversal” com vistas ao calendário eleitoral que começa com as eleições regionais e municipais de 2015 e terminará no final do ano com as eleições gerais.  A meta é ultrapassar o PSOE –socialista. O Podemos articula o choque entre “o povo e a casta”, “dos de baixo e os de cima”, como o principal argumento de sua estratégia política.   Este eixo ficou estabelecido desde o princípio em seu programa de debates políticos na televisão transmitido online, La Tuerka.

5. —”O estilo de falar com as pessoas no La Tuerka foi o que nós começamos a experimentar em meios de comunicação grandes. Comprovei que esse discurso funcionava. É um estilo muito diferente ao da esquerda tradicional do nosso país, é um discurso de maiorias, e as pessoas gostavam, me paravam nas ruas e me diziam “sei que você é de esquerda e eu não sou, mas concordo com o que você diz”.  Desde então passaram-se apenas dez meses, nos quais o Podemos modificou um tabuleiro político consolidado desde os anos 1980. O movimento concluiu em novembro o processo pelo qual se tornou uma força política organizada, com uma peculiaridade: apesar de ter uma estrutura hierárquica, todas as decisões são submetidas à votação das bases, formadas por mais de 270.000 simpatizantes inscritos em sua página na Internet e organizadas em mais de 1.000 círculos territoriais e setoriais. Um fenômeno sem precedentes na Espanha nas últimas décadas, ao menos nesta dimensão. E que tem um objetivo final muito claro. Nas palavras de Iglesias, "sair para vencer e ocupar a centralidade do tabuleiro".

O DIREITO DOS ANIMAIS: JOSÉ DO PATROCÍNIO, VOLTAIRE, ROUSSEAU, MONTAIGNE, DA VINCI, ESPINOSA, OLAVO BILAC...! “AS PRIMEIRAS TEORIAS EM DEFESA DOS DIREITOS DOS ANIMAIS”!





(Chiara Michelle Ramos Moura da Silva, Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, Procuradora Federal - Em 23 de junho de 2014)  1. Os primeiros teóricos que propuseram uma nova forma de seleção acerca do direito dos animais também faziam parte do movimento humanista moderno, dentre eles, Voltaire, criticou a opressão praticada contra os animais, afirmando que se tratava de uma extrema pobreza de espírito equiparar seres vivos a máquinas utilitárias, nas suas palavras: “É preciso, penso eu, ter renunciado à luz natural, para ousar afirmar que os animais são somente máquinas. Há uma contradição manifesta em admitir que Deus deu aos animais todos os órgãos do sentimento e em sustentar que não lhes deu sentimento. Parece-me também que é preciso não ter jamais observado os animais para não distinguir neles as diferentes vozes da necessidade, da alegria, do temor, do amor, da cólera, e de todos os seus afetos; seria muito estranho que exprimissem tão bem o que não sentem. (VOLTAIRE, 1993, p. 169).”
            
2. Rousseau também criticou o uso de animais em experimentos, afirmando que, desprovidos de razão, os animais realmente não podem reconhecer a lei natural, mas, unidos que estão, de alguma forma, à natureza humana pela sensibilidade de que são dotados, é de se entender que também devam participar do direito natural e o homem estaria obrigado, para com eles a certas espécies de deveres. Argumenta, ainda, que se a lei natural obriga a não fazer nenhum mal ao semelhante é menos porque ele é um ser racional do que porque é um ser sensível, qualidade que, sendo comum ao animal e ao homem, “deve ao menos dar a um o direito de não ser maltratado inutilmente pelo outro” (ROUSSEAU, 2001, p. 11).
            
3. Também Montaigne propunha tolerância no trato dos animais, afirmando que aos homens se deve justiça, mas não poderíamos nos esquecer das demais criaturas às quais deveríamos solicitude e benevolência (LEVAI, 2004, p. 20). Retomando Plutarco, Montaigne ressaltou, por sua vez, que haveria mais diferenças entre dois homens do que entre um homem e um animal (DOWELL, 2008, p. 36). Espinosa, por sua vez, propôs uma ética baseada na identidade entre Deus e Natureza. Ora, sendo Deus e natureza uma só coisa, poder-se-ia concluir que a natureza é o ser fundante de todos os seres. Deduz-se, portanto, que todos os seres estão interligados, embora cada um mantenha sua individualidade. Dito de outra forma, cada realidade individual seria manifestação do todo, que “se individualiza e concretiza em unidades autônomas, como os homens, os animais e o meio ambiente” (SAWAIA in CARVALHO; GRÜN; TRAJBER, 2009, p. 81-82).
            
4. Afirmando que o homem não é a causa nem o centro do mundo, mas apenas uma parte de uma rede composta por infinitas outras coisas que estabelecem entre si uma relação de interdependência, o pensamento de Espinosa tem sido utilizado como “fundamentação da ética ambiental” (FERREIRA, 1997, p. 535).
            
5. Também Leonardo da Vinci, teorizou em prol dos animais, afirmando que “chegará o dia em que os homens conhecerão o íntimo dos animais e, então, um crime contra qualquer um deles será considerado um crime contra a Humanidade” (apud SERRA-FREIRE in VALLE; TELLES, 2003, p. 350). Jeremy Bethan, Thomas Regan, Arthur Schopenhauer, dentre outros, também contrariaram as correntes antropocêntricas, recebendo grande reforço com as teorias de Alexandre Humboldt e Ernst Haeckel, considerado pai da ecologia moderna. Contudo, nenhuma contribuição somou mais importância para formação de uma nova comunicação acerca dos direitos dos animas que a teoria evolucionista de Charles Darwin, demonstrando que todos os seres vivos integram a mesma escala evolutiva, o que possibilitou as primeiras discussões acadêmicas sobre o direito dos animais (LEVAI, 2004, p. 21).
           
6. No âmbito acadêmico brasileiro, a mudança de comunicação no que diz ao trato com os animais teve como fomentador o abolicionista José do Patrocínio, que comentou em sua coluna jornalística intitulada “A notícia” que teria um respeito egípcio pelos animais, acreditando que estes teriam alma, ainda que rudimentar, sofrendo conscientemente as revoltas contra a injustiça humana. Em suas palavras: “Já vi um burro suspirar como um justo depois de brutalmente esbordoado por um carroceiro que atestara o carro com carga para uma quadriga e queria que o mísero animal o arrancasse do atoleiro” (PATROCÍNIO apud LEVAI, 2004, p. 28-29).
            
7. Na esteira das suas considerações de Patrocínio, Osvaldo Orico e Olavo Bilac também impulsionaram a comunicação em prol dos animais. Olavo Bilac reafirmou o amor à vida, “amor a tudo quanto vibra e sente, de tudo quanto rasteja e voa, de tudo quando nasce e morre” (apud ORICO, 1977, p. 287), enquanto Orico (1997, p. 286) defendeu que os escritos de Patrocínio em defesa dos animais representariam o último alento de sua vida intelectual, harmonizando-se com sua postura sempre em favor dos humildes.
            
8. Essas teorias propuseram uma nova seleção de sentido no que diz respeito à possibilidade de consideração moral do animal, o que, provavelmente, repercutiu na atuação das sociedades protetoras dos animais. A RSPCA (Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals) e ASPCA (Society for the Prevention os Cruelty to Animals), considerados grupos radicais quando fundados, opuseram-se a todas as formas de crueldade para com os animais, mas que, com aumento de recursos e do número de membros, passaram a ter estreito contato com governos, empresários e cientistas, possibilitando algumas regulamentações sobre a utilização de animais por parte do poder público (SINGER, 2004, p. 248). 99994

ESCOLA NÃO É PRODUÇÃO INDUSTRIAL EM SÉRIE!




                                    
Professora Regina de Assis - Consultora em Educação (Globo, 11).
            
1. Um anúncio da prefeitura do Rio de Janeiro, ilustrado por uma foto em que crianças fazem parte de uma linha de produção, informação que é reiterada na legenda da publicidade divulgada nos jornais, vem levantando grande revolta nas redes sociais e entre todos os que nos preocupamos com a educação pública de nossa cidade.   Há muitos anos, a educadora Maya Pines publicou um livro em que demonstrava que as escolas podem atender a três modelos: o de um jardim, o de uma linha de produção e o de uma viagem.
            
2. No primeiro, crianças e adolescentes seriam comparados a flores, que necessitam de ar, água e cuidados para crescer, modelo no qual, obviamente, seus professores seriam os jardineiros. Como parecem fazer crer as intituladas EDI, Escolas de Desenvolvimento Infantil, no Rio de Janeiro. No entanto, é importante lembrar que crianças não se desenvolvem como flores, posto que interagem, são curiosas, vêm de situações familiares e socioeconômicas diferentes, apresentando rica e desafiadora diversidade.
            
3. O segundo modelo de escola descrito por Maya Pines é, justamente, o da linha de produção, semelhante ao proposto pela visão taylorista/fordista do início do século XX, com o pressuposto de que, fornecendo escolas, carteiras, quadros de giz, livros e materiais necessários ao processo de ensino a serem usados por professores e estudantes durante o ano letivo, obtêm-se resultados pedagógicos desejados. Simples assim, como apresentado na publicidade utilizada pela prefeitura do Rio no ano de 2014 do século XXI. Com o agravante de que são usadas três crianças sentadinhas em suas carteiras, enfileiradas em cima de uma esteira movida por engrenagens próprias de uma linha de produção. Como no filme “Tempos modernos”, de Chaplin, ou na cena antológica de “The Wall”, de Alan Parker. Assustador, no mínimo!
            
4. Ora, educar supõe constituir conhecimentos e valores na ampla e desafiadora diversidade de situações vividas nas escolas públicas por estudantes e professores. Esse processo exige planejamento, integração de conhecimentos articulados por um núcleo curricular básico, enriquecido pelas linguagens audiovisuais, digitais e impressas, em que avaliações constantes reorientam o rumo das atividades pedagógicas, visando ao êxito de crianças, adolescentes e seus professores. Esse paradigma está mais próximo da viagem proposta por Maya Pines, na qual se sabe de onde se parte para os 200 dias letivos, planejando-se o rumo desejado, embora haja espaço, tempo e variedade de soluções para eventuais mudanças ou acidentes de percurso, avaliando-se constantemente as interações entre estudantes e seus professores.
         
5. Embora diferentes, as oportunidades contemplarão a todos. Muito distante, portanto, da solução simplista e padronizada da publicidade — e certamente da proposta pedagógica que a alimenta no município do Rio —, reduzindo a tal Fábrica de Escolas do Amanhã à função de construir escolas uniformes, em que alunos são colocados em fôrmas, para um futuro incerto. 

“SE ELES LÁ NÃO FAZEM NADA, FAREMOS TUDO DAQUI!”

“SE ELES LÁ NÃO FAZEM NADA, FAREMOS TUDO DAQUI!”